novembro 2011


O idiota defronte o quadro
Rabisca traços indecifráveis
Cria símbolos inconexos
Parvoíces desnecessárias

O idiota, defronte o quadro
Transpira, arfa
Maçãs ruborizadas
Ansiedade juvenil

Defronte o quadro, o idiota
Rabisca a si mesmo
Símbolos tolos, inconexos
Como se visse um espelho

Que sejam poucos
Mas que sejam bons

Poucos, que sejam
Mas que estejam presentes

E que, quando ausentes
Seja apenas como hiato

Um breve hiato

Me perco nos olhos
E fito o nada
Buscando palavras

Pego do caderno
Companheiro atual
De horas incautas

Não me caem as palavras
Traço linhas, objetos confusos
Nenhuma forma concreta

Vai sair no guardanapo
Em hora inexata
Essas palavras

O garoto se recostou no coqueiro. Era um dia de mormaço – nublado, mas bastante quente. Arfava, cansado, como quem correra desesperadamente. O coração batia frenético. Recostou-se meio desajeitado. Aguardou. Lágrimas nos olhos misturavam-se com o suor que descia da fronte. A visão estava turva – não sabia bem se pelas lágrimas. As ideias circulavam em torvelinho, assaltando-o a todo momento, misturando-se com a lembrança do que vira há pouco. Não entendia ainda o que estava acontecendo. Já um bom tempo havia passado, mas ainda resfolegava e o coração não parava de indicar que havia algo errado. Uma sensação de perigo que nos assalta e que só bem depois podemos compreender o porquê. A visão voltava a clarear. Via, à sua frente, o mar, lânguido, em um dia onde o vento resolvera repousar. Era Helena quem lhe surgia entre os coqueiros da praia. E o coração batia mais e mais forte. Piscou os olhos algumas vezes, agitou a cabeça. Helena não estava ali, mas apenas a lembrança dela. A lembrança de Helena passeando de mãos dadas com um garoto que ele nunca vira. Percebeu, naquele instante, que estava sentindo uma estranha dor. Diferente de qualquer coisa que já havia sentido. Era uma sensação de impotência e orgulho ferido. Um desespero de não ter para onde correr, para onde fugir. Lembrou-se que se escondeu atrás do coqueiro para que não fosse visto. Pensou voltar-se lentamente para verificar se ainda se encontravam por perto. Ao mesmo tempo pensou também que não gostaria de ver mais daquela cena. A cabeça doía-lhe. O corpo pesava. As mãos suavam. O coração continuava a palpitar em um frenesi absurdo. Sentia-se uma partícula ínfima no universo, enquanto que, paradoxalmente, tudo parecia ruir-se em torno de si. Um buraco negro sugando toda matéria e luz ao redor. Tentou respirar com calma. Compreender a situação, compreender o que estava sentindo. Inspirou profundamente por uma, duas, três…, dezenas de vezes. Por fim conseguiu acalmar-se um pouco. As ideias pouco a pouco voltaram a ter sentido. Lembrou-se de Joana, Maria, Fernanda… Não era a primeira vez que sentia aquilo. Mas sabia que por mais anos que passassem, sempre que algo assim acontecesse voltaria a ser o garoto que se escondeu atrás do coqueiro em um dia de mormaço.