junho 2013


O garoto uma vez viu, na TV, uma anomalia, um desses fenômenos raros que acometem as pessoas, viu alguém que tinha o coração do lado contrário, ou seja, do lado direito. Ficou entusiasmado com a ideia. Logo passou a acreditar que também tinha o coração do lado direito. Sempre foi tratado como estranho, como o contrário, como o que não se encaixava. Mas agora tudo fazia sentido: ele tinha o coração do lado direito. Passou a caminhar com um sorriso que substituía o sorriso tímido com o qual antes lidava com as situações. Quando perguntavam o que tinha acontecido, ele só dizia: tenho o coração do lado direito. Desse dia em diante, o garoto tornou-se uma poesia, independente da reação das pessoas, se riam ou se admiravam o fato, o garoto sabia que, a razão de tudo, era ter nascido com o coração do lado direito. E, para ele, isso tornava as coisas bem mais simples, pois haveria, com certeza, outras pessoas com o coração do lado direito, bastava encontrá-las.

Teu choro e teu grito, já eram conhecidos
Tuas primeiras palavras comovem
Teus primeiros passos, trôpegos,
– Me dão aflição –
Saberás caminhar?
Tantos pais, tantas mães
Quem te ensinará?

Torço para que cresças forte
Não tiveste berço esplêndido
Como bradam teus inimigos
Te vejo assim, crescendo rápido
E só desejo, meu caro,
Que sejas capaz de discernir
Entre aqueles que te querem
e os que te querem (pra) destruir.

do nó que dá
na garganta, grito seco
fala muda
do nó que dá

de ver, de ser
de estar
dó que dá nó

qual a medida
do tempo ido,
da palavra não dita,
do abraço apertado,
da voz aflita,
da face rubra,
da despedida?

qual a medida
da ventura,
caminho algures,
serena vida?

Queria ser visto por dentro
Virou-se do avesso

Era feio

amor
não é isso, nem aquilo
é o que você quer que seja
bem diferente, muito diferente
do que o outro almeja

Não esqueça de adentrar a sala
Não esqueça de vasculhar o quarto
Não esqueça de acender a luz

Leve um vaso, uma rede e um bom livro
O cinzeiro e uns copos
Deixe seu cheiro, deixe suas marcas
Rabisque as paredes, manche os lençóis

Faça do sono entediante, a insônia ansiosa
Seja mais presente que o tempo
E ocupe mais que o espaço