setembro 2012


o vento que passou
levantou a saia da menina
rasgou o mormaço da tarde
levou os papéis da mesa
agitou as roupas no varal
derrubou três mangas amaduradas
entornou a garrafa vazia
gelou o espinhaço idoso
bateu a porta da cozinha

o vento que passou
causou furdunço
só por pirraça

o vento que passou
veio, entrou, e passou

Não cabiam mais as fantasias, os sonhos, as emoções, as ilusões. Outros negócios haviam ocupado todo o espaço-tempo… Trabalho, estudos, contas, doenças, reuniões familiares, jantares com amigos e o constante medo de passar sem deixar sua marca. Ela se olhava no espelho, o batom, ora suave, ora forte. A maquiagem demorada. Ela se desmanchava no espelho para dar cara à outra… Àquela que é forte, que é séria, que não se desmancha. Estava pronta para mais uma noite de encontros e desencontros. Sempre se perdia onde ia se buscar. A maquiagem não segurava o olhar angustiado. O olhar angustiado aparentava firmeza a quem não a conhecia. A chuva caía, fina. A chuva molhava seus lábios, borrava sua maquiagem, empapuçava sua roupa. Ela chorava enquanto a chuva diluía suas lágrimas. Encostada no carro, chorava. Desesperadamente dirigiu-se para casa. Nua e ainda molhada, encostada em um canto do quarto. A chuva descia em rajadas cada vez mais fortes. Seria difícil explicar, no outro dia, tão estranho acesso… Mais uma vez preocupava-se com os outros…