abril 2014


Qual o caminho a seguir?
Já tanto há dito sobre isso
E nada há dito
não há caminho
Não há verdade
Não há nada que leve
à felicidade ou à tristeza
E tantas vozes gritam
por deuses, por verdades,
por negações, por amores
Há tanto… E tanto, tanto
Tanta gente, tantas vozes
Tantas letras, tantas imagens…
Vivemos na era das imagens
Fotografias
“Recortadas de jornais de folhas
amiúde”
É a era das imagens
Fotografias, gravuras, lápis que perpassam
folhas a perder de vista
É um vazio enorme a preencher
Não sei…
O que preenchemos? O vazio?
Ou o vazio nos preenche?
Quem envolve quem?
Tanto desespero
De lá e de cá
Dos com e dos sem
Desespero de quem tem?
Desespero de quem quer ter?
Chegamos num ponto comum?
Não sei para onde ir
Do lado de lá, alguém compra
uma passagem
Para viver, para passar,
daqui 500 milhas
daqui para o nada
A saudade vai perdurar
Desse pedaço de cá
Desse pedaço?
Não, talvez não
A saudade vai perdurar?
Ou a tristeza, a impotência,
de não ter conseguido mudar?

olhe os sinais na estrada. todos eles dizem ‘siga em frente’. siga. em. frente. olhe os sinais, renato, olhe os sinais. não perca a entrada. será à esquerda? será à direita? na primeira, na segunda, na terceira entrada? renato, tanto que te digo, cara, olhe os sinais na estrada. e você, você, sempre, sempre, com a cara pro nada. lembro, agora, de um dia, na faculdade, insistia em irmos embora, mas você defendia o tempo, seu amigo, seu parceiro. insistia, repetindo, ladrando versos, que o tempo era seu companheiro. não sei, renato, não lembro, quando viramos a página, e você seguiu livro novo, nova narrativa, verso solto, poesia de vagamundo. ou esse era nosso livro, e eu que caí pela borda, chão pesado, palavra pétrea, em concreto sufocado. olha, renato, onde estás indo, os sinais da estrada, os sinais, renato, todos eles dizem ‘siga em frente’. armadilha do tempo, renato? teu companheiro cegando teus passos? renato, presta atenção, renato, à esquerda, você deve entrar à esquerda. lembra? a estrada do velho sítio. agora recordo, renato, do dia em que, cabisbaixo, chutava pedras na rua. noite fria, rara nessa cidade tão quente. você correu até mim. era um dia difícil. conversamos por longo tempo. um ano sem contato. você não tinha mudado. ou talvez, teu companheiro, tempo, tenha me roubado uns longos anos, e entregue em tuas mãos. renato, vê, está escurecendo, e os sinais na estrada começam a refletir os faróis. ‘siga em frente’, ‘siga em frente’. renato, o percurso é longo. você lembra? mas quantas horas já dura esta viagem? é noite, renato. a entrada não tem iluminação, não tem sinalização. uma velha entrada à esquerda, coberta de mato, com uma jaqueira ao lado. quantos anos, renato? renato… é noite. escureceu. está frio. teus amigos te esperam, renato. mas você não retorna. deu braços ao tempo. ao teu tempo. e esse é um caminho sem volta. siga em frente.