julho 2013


Talvez
Necessário fosse
O ponto final
Sem sinal

Trazia presas, nos lábios, desesperadas palavras. Atordoada, engolida pela noite, fluía, freneticamente, da alma aos dedos, fugidias palavras. Frases a galope. Acusações frustradas, direcionadas ao léu. A alma, tão derrotada, levou ao grito seco, ao riso amargo, ao olhar cínico, aos gestos falsos. A pele, tingida de roxo, de vermelho, de cores marcantes, traduzia tão só o vazio desvairado de seu ser. Se escondia na noite e suas cores atraíam as presas. Foi sendo consumida, pouco a pouco, sem se dar conta de que sua metamorfose, sua pintura, era sua própria traição.

a sala vazia. ando do imenso vão, pelo corredor, ao jardim. pequeno jardim. apenas uma flor emerge, a do pequeno cactus. todas as outras sucumbiram. secas. pela janela vejo as prateleiras da estante. vazias. apenas um livro resta, não reconheço a lombada. não consigo decifrar as letras. esse fim já havia sido previsto. um arco. obsolescência programada. essa era a estratégia da vida. volto à sala. ratos correm, em fuga, disputavam um pão largado à única mesa, situada no centro. a fumaça que flui do cigarro se demora a dissipar. a memória reconstrói a mobília. os habitantes. as discussões. os amores. as frustrações. os jantares e as agonias. quebrando o mormaço, uma forte brisa invade a sala, por uma das muitas janelas quebradas. nunca fui embora desta casa. e, no entanto, como ela faz falta. não ter ido embora é saber que não se tem para onde voltar.