junho 2008


chore, menina
chore para abafar
a chama que queima teu coração

desperte, menina
desperte para se libertar
do sonho que enreda sua vida

fuja, menina
fuja para se esconder
do desejo que sufoca seu ser

reze, menina
reze pela resignação
daquele que te quer

l e m b r a n ç a s

desfocadas
desfalcadas
impertinentes
intransigentes

l e m b r a n ç a s

de fatos
de sonhos
entreabertos
rompidos
com um decreto

l e m b r a n ç a s

do toque
do sorriso
dos lábios
objetos
abjetos

l e m b r a n ç a s

belas
fotografias
recortadas
da vida

o de peito reprimido
em meio a apaixonados

o que pinta o sol de azul
e o céu claro fica estrelado

o caricato ser
numa prece desesperada

o crepúsculo marginal
de uma aurora angustiada

o amor que nasce
d’um sorriso acabrunhado

o segredo que se confia
sem que seja contado

o de cabelos desgrenhados
na foto 3×4

não vou entender
se você não explicar
com todas as letras
o porquê

você se recusa
alega
“você nunca entenderá
se eu tiver de explicar”
 
de fato
nem eu posso
entender

de fato
nem você
pode explicar

palavras
simples assim
complexas assim
não explicam

confundem
atordoam
magoam
destroem

reivindico o silêncio
você
aceita o silêncio

covardia
coragem
medo

adeus

Mas todas as cartas de amor são ridículas. Essas palavras ecoavam em seus pensamentos. Esforçava-se por se livrar delas, mas voltavam como no movimento elíptico que os planetas mantêm em volta de um sol tão insignificante quanto o que nos aquece. E era como essas cartas que ele se sentia: ridículo! Pior que isso, sentia-se muito mais como o planeta que circula ao redor do insignificante sol. Há alguns dias não era essa sensação de ridícula insignificância que o afligia, sentia-se como o melhor dos seres, o mais amado, o mais bem-quisto. Palavras de amor, declarações… Ridículas proezas literárias… Tragiversos! – de trágico mesmo. Gostaria de poder, agora, culpá-la, julgá-la, sentenciá-la e puní-la. Mas como fazer tudo isso sem culpar-se, julgar-se, sentenciar-se e punir-se pelo mesmo crime? É o mal do amor, cada um sente de uma forma, e cada qual quer ter o seu quinhão. Terreno malfadado e injusto esse, terra de deleites etéreos. Andava cabisbaixo, guerreando com seus pensamentos. Na sua mente um universo inteiramente diverso se formava, não tão diverso, é verdade, mas alheio à totalidade da realidade, já que nada mais era que uma pífia representação de tudo que ele conseguia interpretar do mundo que lhe rodeava. Nesse momento, a região mais consciente dos seus pensamentos alongava um imenso mar no horizonte e ele se via, com ela, em um mirante, observando o oriente, pareciam estar sozinhos, mas a verdade é que centenas de outras pessoas os rodeavam, centenas de pequenos pensamentos, só esperando pelo momento de intervir na conversa, atrapalhar, dar uma luz, um insight, ou simplesmente tropeçar e rolar mirante abaixo, destroçando-se maravilhosamente. Exatamente nesse momento ele observava aquele imenso mar azul estendendo-se até onde os navios caem vertiginosamente lentos, onde o céu deixa de ser teto para ser um mísero rodapé, e ele cá, tentando articular as palavras, transformando desvarios em explicações sobre os porquês da vida, dando ao seu sol uma chance de lhe dar mais uma chance. E ela sempre com uma saída inexplicável para os não-porquês da vida. Ele sim, ela não, ela talvez. Não, não, com certeza não, mas talvez. E nesse sim, nesse não, nessas sobras de talvez, o seu pequeno universo, talvez só um pouco maior do que o universo que todos nós compartilhamos, ia se desfiando em uma miríade de pensamentos cada vez mais confusos e sem razão de ser. Ali, naquele mirante eterno, as palavras saíam com dificuldade. Não é fácil explicar o inexplicável, ainda mais para si mesmo.

Esse texto está incompleto, é apenas um rascunho. Não gostei do final e provavelmente, se algum dia retomar sua redação, ele será alterado…