ser


ostra
sem pérola
ostra
sozinho
cismo
no mar
esquecer
esquecido
ostracismo

O vício alimenta a alma

Que se debate, violenta, contra as paredes
Paredes de vidro, vidro fosco
Um vidro escuro, que filtra a luz
Deixando cega a alma

Nas ruas, nos bares

Vejo rostos sorridentes, com olhos amargurados
Vejo corpos sedutores, com almas embotadas

Pouco resta de sincera alegria
O vício é o alimento da alma

Dias vazios nos perseguem
Questiono-me do que já foram preenchidos

A memória não ajuda
“Em que ponto da estrada errei o caminho?”

Persigo a noite, escondendo-me da luz
A luz que insiste em mostrar que há algo errado no caminho

Nas ruas, nos bares

Vejo rostos sorridentes, com olhos amargurados

Vejo corpos sedutores, com almas embotadas

Pouco resta de sincera alegria
O vício é o alimento da alma

Dias vazios nos perseguem
Questiono-me do que já foram preenchidos

A memória não ajuda
“Em que ponto da estrada errei o caminho?”

Persigo a noite, escondendo-me da luz
A luz que insiste em mostrar que há algo errado no caminho

Transbordo tristezas

Do transbordo, vertem minhas dores
Mesquinhas, irresolutas

Os dias não me ensinam
Apenas me matam – lentamente

Minha garganta ensaia um nó
De amargura e solidão

São passos cada vez mais incertos
Com uma arrogante cara de tédio

Vestindo no rosto a imagem de um rei
O espelho não mostra o que se debate em meu peito

um passinho passado,
um passado de cada vez

descompassado passo
passagens que deixei

Parei e olhei, ao longe, a forma ofuscada pelo sol. A forma não revelava mais que a infinita distância incompreendida entre meus passos e aqueles passos. Seguia-a. Não sabia porquê. Mas a seguia. Difícil compreender essas atitudes insanas, impensadas. Seria eu um tolo em perseguir uma forma que, num impulso, num lapso de insensatez, me causava desejo, me atraía e, pouco a pouco, guiava-me para lugares inimagináveis? As consequências eram imprevisíveis, bem sabia eu. A razão não me abandonara de todo, logicamente. Pentelhava-me a cada esquina dobrada, a cada parada de ônibus. Sim, porque a perseguição não se dava de forma contínua, nem unicamente neste dia. Já há muito tempo que a via passar e, distraidamente, me pegava a persegui-la, sem mais nem porquê. Para que os porquês? De fato, nem sei exatamente quando essa perseguição começou. Momentos houve em que cansei de persegui-la, de buscá-la em meio à multidão de formas. Essa forma. Essa forma que vos digo. Não tem rosto. Não tem nome. Não a conheço. Mas ela me conhece, isso eu sei. Sei porque sinto o seu perfume pretérito quando passa e me ponho a persegui-la. Naquele exato momento em que, apenas de costas, de forma embassada, onde mal consigo perceber alguns traços de sua feição, ela derrama todo seu mistério e preenche um vazio que me atormenta e me aflige. Seria essa a razão para tamanha obsessão?
Nunca fui dado a essas loucuras, à impulsividade. Perdido em meio ao vácuo existencial, a razão sempre imperou como senhora dominadora, mãos-de-ferro da minha forma de agir e, quiçá, sentir. Mas esse vazio sempre foi um incômodo. E agora esse acontecimento estranho, essa percepção fugaz, essa forma indecorosa e invasiva que me toma e me encanta, tal qual a canção dos dias vividos que não vivi. Onde irei parar com essa história? Onde me levará essa senhora, inalcançável por minha timidez ou insegurança? Olho ao redor, mais uma vez estou só. Mais uma vez o vazio. Enquanto devaneava nesse caderno velho, ela mais uma vez sumiu. Entre as formas que transitavam na calçada em frente, entre o vendedor de quinquilharias e o moleque que passava a correr.
Para onde vou?

(deve continuar em breve…)

perdeu a fala
o dom da fala
hoje, catatônico
mil vozes falam por si
e todas balbuciam
a dor e o prazer
– de viver

e, embora pareçamos andarilhos sem rumo
um dia veremos que apenas crescemos o bastante
a ponto de não enxergarmos mais as raízes que
ora nos prendem, ora nos alimentam

ele: é isso!?
ela: sim, é…
ele: tem certeza?
ela: não, mas… é o certo, não é!?
ele: não sei… diria que não… mas você me confunde…
ela: se não for, descobriremos.
ele: poderá ser tarde.
ela: já é tarde.
ele: sim… é.
ela: então… vamos?
ele: …
ela: bom, posso te deixar aqui, por mais um tempo, ruminando rumores e humores…
ele: hum…

andarilho da estrada que leva ao nada
enxerguei no caminho saídas tangentes

entrando em umas
desvencilhando de outras

segui em frente

hoje vejo que todas aquelas saídas
convergem para a mesma estrada
a estrada que leva ao nada

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